1. |
Imaturidade
03:23
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Este é o fim de todos os processos,
O acesso à vida sem névoa,
Sem aquém, sem saudade,
É como se parasse a abstracção do tempo,
Congelar um presente eterno a distorcer a matéria,
É um rasgo na pele à espera que enferruje.
É tudo uma questão de questões,
Sonhos dobrados em quatro,
Pesadelos desdobrados em oito,
Não há medo da folha em branco,
Mas há esperança do som em vazio,
Os dedos sobre uma lâmina romba,
Cá em casa ainda usamos facas,
E eu ainda existo e existirei,
Gravado numa frequência.
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2. |
Anastilose I
09:20
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É um recomeçar infinito,
Tenho que aprender por onde recomeçar,
Tenho que apreender por onde começar,
Se eu já soubesse, se eu já soubesse,
Continuo obstinado a ser obstinado,
Marquei com tinta por onde passei,
Não consigo ser mais sincero que isto,
Não consigo,
Um dia reinicio a minha história,
O que sou e o que quero ser,
Porque eu sei que não sou isto,
Não sou isto,
Até lá, os pássaros vão comer a tinta do caminho.
Para onde vai a memória quando se vai o passado?
Os momentos só existem quando ela os lembra.
Não sei desenhar com palavras,
A caneta não é tão bondosa como o lápis,
Não sei ler a idade na cara das pessoas,
Só sei desenhar a cidade no carácter das pessoas.
Iremos dar grandes passeios aos domingos,
A luz branca da manhã e a tua cara,
Melhor, só contigo, nada mais, contigo
Não preciso de mais, Nada, nada mais.
Nada, nada, nada, nada, nada, nada!!
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3. |
Purga
03:03
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Que se foda o método, tanto tempo a tentar criá-lo,
Foi só tempo perdido a tentar criá-lo,
Se não sabes por onde começar é porque não deves,
Só vale a pena se o fizeres, não vale se o disseres.
Estou farto de esperar pelo dia,
Farto de desenhar a vida de memória,
Para me salvar de um mar de silvas,
Atiro um barco insuflável.
Não são demónios a atormentar,
Ou musas que me desencaminham,
O problema sou eu e o problema está em mim,
Não adianta fugir. Estou sempre comigo,
Não adianta fugir porque não adianta,
Não adianta. Já nem sei o que adianta ou não,
Esgota-se a minha paciência, a tua, de todos,
Nem sei para onde me virar, caminhar, correr,
Recomeçar ontem, hoje, amanhã, depois,
Mas nem horas infinitas chegavam para não fazer isto.
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4. |
Anastilose II
02:44
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Quando te vestiste de cinzento guardei os cadernos,
Densos, com muitas folhas, papéis sem data,
Nem sei se hei-de queimar, ou sequer se sei,
Só sei do silêncio do crepitar das folhas,
Eu penso que a sombra desapareceu,
Pelo menos está menos opaca,
O pano caiu.
Um abismo com fim não é um abismo,
Nem tudo é tão mau como poderia ser,
Antes a cabeça no chão duro,
Que o corpo através da névoa,
O sangue e os arranhões são vida,
Imolei-me para queimar a capa que me envolvia,
e que me filtrava o que sentia,
Para viver nesta pele fina.
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∩ Porto, Portugal
O projecto ∩ - símbolo de intersecção, Intersectiō em latim, - de Ricardo Nogueira Fernandes, oscila entre os universos da electrónica experimental no geral e do drone, do noise, do spoken word, em particular. O ruído como matéria palpável esculpida e a palavra como expressão abstracta do figurativo. ... more
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